A história da Gurgel se confunde com a do seu fundador, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, paulista nascido em Franca, em 1926, e formado pela USP aos 23 anos de idade. O interesse de João Augusto pela mecânica se manifestou desde criança e seu caráter questionador, contrapondo soluções inovadoras – por vezes revolucionárias – aos obstáculos e desafios técnicos surgidos no dia-a-dia, o acompanhou por toda a vida. Ainda estudante seu interesse se voltou para os automóveis, sonhando desenvolvê-los e fabricá-los no país. Obstinado pela ideia, desde cedo se preparou para a tarefa e, mesmo antes de se graduar, construiu (em 1947) um protótipo operacional de veículo anfíbio a hélice, com três rodas e motor de avião.
Graças ao alto desempenho obtido na universidade, recebeu no início da década seguinte uma bolsa do General Motors Institute, nos EUA, onde permaneceu até 1953, estagiando nas fábricas GM de Flint e Pontiac. Lá testemunhou os primórdios da utilização da tecnologia do plástico reforçado como matéria-prima para a construção seriada de automóveis, da qual a própria GM foi pioneira com o lançamento, naquele mesmo ano, do Chevrolet Corvette. De volta ao Brasil, João Augusto trabalhou por alguns anos nas filiais brasileiras da GM e da Ford, onde chegou a participar dos planos da nacionalização dos caminhões dos dois fabricantes. Simultaneamente, a convite do governo federal, contribuiu com a estruturação do GEIA, que veio a ser a força motriz da criação da indústria automobilística brasileira.
Em 1958 criou em São Paulo (SP) sua primeira empresa – a Moplast Moldagem de Plástico Ltda., onde produziu os primeiros painéis luminosos de acrílico do país, em substituição ao neon. Mas o micróbio do automóvel não demorou a se manifestar e, já a partir de 1960, em associação com Silvano Pozzi (que três anos depois criaria a Silpo), começou a fabricar o Mo-Kart – primeiro kart de competição produzido em série no país. Dotado de motor monocilíndrico de dois tempos de fabricação própria, com 125 cm3 e 6 cv (podendo chegar, quando preparado, a 10 cv e 100 km/h), foi produzido por vários anos, vencendo muitas provas nas mãos de futuros campeões da estatura de Emerson Fittipaldi. Em novembro daquele ano, por ocasião do I Salão do Automóvel, a Moplast lançou o minicarro Gurgel Jr, equipado com motor monocilíndrico Briggs de quatro tempos, 125 cm3 e 6 cv (mais tarde substituído por outro de mesma potência e projeto e produção próprios). Tratava-se de um kart “de passeio” – um chassi Mo-Kart que recebia carroceria aberta de fibra de vidro e suspensão independente nas quatro rodas. O carrinho teve muito sucesso, tendo sido fabricadas mais de 500 unidades, muitas delas exportadas, algumas até para a Alemanha e EUA.
No II Salão, em 1961, apresentou o Gurgel II, que seria o primeiro de uma longa série de carros brilhantemente concebidos, porém sem continuidade de produção. O Gurgel II tinha carroceria de dois lugares, de plástico reforçado com fibra de vidro (como toda a produção posterior da Moplast e de suas sucessoras), montada sobre um chassi tubular com engenhosa suspensão independente nas quatro rodas. O motor de 130 cm3 (10 cv, refrigerado a ar), localizado na traseira, era acoplado a uma caixa de mudanças de variação constante, composta de polias tronco-cônicas e correias em V. Funcionando quase que como uma transmissão automática, o sistema vinha sendo utilizado na Europa pelos pequenos automóveis holandeses DAF e, muitos anos depois, seria aplicado pela Fiat (que ainda nem sonhava em se instalar no Brasil) em alguns de seus modelos nacionais. Além destes veículos de lazer, a Moplast lançou no III Salão do Automóvel um transportador industrial para movimentação de cargas em fábricas e aeroportos, anunciando-o como “de criação e fabricação nacionais“. Denominado Mocar, pesava somente 180 kg e era acionado por motor a gasolina de dois tempos, 125 cm3 e 7,5 cv; contava apenas com uma marcha à frente e ré reduzida.
Em 1964 João Augusto se desligou da Moplast e abriu, ainda em São Paulo, a Macan Indústria e Comércio Ltda., revenda Volkswagen que continuaria a fabricar karts, mini-carros infantis e o Mocar. A cada Salão do Automóvel alguma novidade era mostrada ou lançada: em novembro, na sua IV edição, foi a vez do Gurgel Jr II (3 cv), carrinho motorizado para crianças, com 2,10 m de comprimento e estilo inspirado no Ford Mustang. Ao modelo se juntou o mini Karmann-Ghia, carro infantil que reproduzia a carroceria de outro grande sucesso da época, com chassi tubular, motor também de 3 cv, uma marcha à frente e ré, suspensão dianteira por molas helicoidais e freios nas rodas traseiras. Enquanto isto, dava continuidade ao desenvolvimento do Gurgel II, que já dispunha de um segundo protótipo, com carroceria modificada e novos motores de dois cilindros opostos, um refrigerado a água (350 cm3, 12 cv) e outro a ar (400cm3, 18cv – neste caso, o carro era chamado G-400).
Fonte – http://www.lexicarbrasil.com.br